A forma como o trabalho de cooperação e fomento internacional é financiado está mudando à medida que o mercado para investimentos de impacto e outros mecanismos cresce. “Responsible Investor”, uma publicação britânica dedicada a notícias e eventos relacionados a investimento de impacto, ESG e financiamento sustentável (www.responsible-investor.com), entrevistou recentemente o CEO da Palladium, Christopher Hirst, sobre o futuro da geração de impacto positivo ao redor do mundo e por que ele acredita que o setor de cooperação e fomento internacional tem um papel único a desempenhar.
O estado indiano de Rajastão tem uma das taxas mais altas de mortalidade materna e de recém-nascidos no país, com 244 mortes maternas por 100.000 nascimentos, em comparação com 130 para o resto do país.
Para resolver o problema, o primeiro “Development Impact Bond (DIB)” de assistência médica do mundo foi criado pela consultoria de impacto Palladium (www,thepalladiumgroup.com), com o objetivo de prevenir até 10.000 mortes de mães e recém-nascidos em um período de cinco anos.
Os investidores, incluindo a UBS Optimus Foundation, disponibilizarão US$ 3,5 milhões em capital de giro a provedores de serviços para começar a trabalhar em instalações de saúde no Rajastão, enquanto a agência de cooperação internacional USAID e a ONG MSD for Mothers remunerarão os investidores em até US $ 8 milhões caso os resultados esperados do programa forem atingidos.
Mas, para o novo CEO da Palladium, Christopher Hirst, o chamado “Utkrisht Bond” “ainda não é grande o suficiente para ser viável comercialmente”.
Ao ser promovido a CEO, depois de 20 anos em várias funções senior na Palladium, Hirst diz que sua ambição para a organização é trazer uma “abordagem comercial para a cooperação e fomento internacional, desbloqueando o capital privado para impulsionar a mudança nas práticas de desenvolvimento social, ambiental e econômico em todo o mundo”.
Os Development Impact Bonds fazem parte de sua missão a esse respeito, embora Hirst admita que ainda há “muita conversa, mas pouca ação”.
“Houve muito impulso desde o lançamento do Utkrisht Bond. Antes disso, as pessoas estavam interessadas no conceito do ponto de vista acadêmico, mas não em avançar com a ideia. A partir do lançamento, despertamos uma atenção enorme. Mark Green, o chefe da USAID, disse que o DIB foi uma das suas principais atividades de 2017. Muita gente quer aprender sobre ele e evolui-lo, comprovando que o Utkrisht Bond foi uma prova de conceito de sucesso, o que é ótimo para todos os envolvidos”.
A Palladium se autodescreve como uma empresa de impacto global. O negócio de US$ 500 milhões gerencia a execução de projetos de cooperação e fomento internacional, mas também presta consultoria direta sobre gestão e estratégia para governos e setor privado. Hirst diz que essa atuação consultiva oferece a oportunidade de dialogar sobre o impacto de uma organização na sociedade.
“Alguns dirão que não estão interessados, mas representam a minoria”, diz ele. Cada vez mais, tem-se verificado um aumento na demanda por projetos de consultoria nos quais o impacto positivo é abordado como oportunidade de negócio, acarretando na definição de iniciativas estratégicas voltadas à geração de receita e impacto ao mesmo tempo. “Nossos clientes são algumas das maiores multinacionais do mundo nos mais variados setores”, diz Hirst.
A Palladium iniciou sua atuação há mais de 50 anos, prestando consultoria em gestão rural na Austrália. Desde então, tem se expandido globalmente com um foco em cooperação e fomento mais amplo, gerando receita por meio de projetos financiados por entidades governamentais e multilaterais. Em 2014, percebeu que o dinheiro destes doadores não era suficiente para escalar o impacto da cooperação internacional, levando à aquisição da consultoria de gestão Palladium, cujos fundadores – Professores Robert Kaplan e David Norton da Harvard Business School – são os responsáveis pela criação do famoso “Balanced Scorecard”, um sistema de planejamento e gerenciamento estratégico que monitora o desempenho de uma organização incorporando perspectivas financeiras e não financeiras.
Falando sobre esta aquisição e a subsequente mudança na cultura da empresa, Hirst diz: “Nossa Visão é de que o setor privado passe a estar fortemente engajado na criação de impacto positivo. As empresas não conseguem fazer isso somente por meio de iniciativas de Responsabilidade Social Corporativa, como tradicionalmente tem sido o caso. Elas realmente precisam incorporar o conceito de impacto em sua estratégia organizacional, o que pode ser feito usando nossas ferramentas e metodologias de definição e gestão da estratégia em combinação com nossa experiência em executar e medir programas que geram impacto real. É uma boa proposta de valor”.
Hirst diz que, como parte deste processo, a Palladium entendeu que precisava começar a pensar em como atrair o investimento privado ao ecossistema de impacto. “O que descobrimos através de nossos projetos de cooperação internacional executados em mais de 90 países foi que muitas vezes as limitações ao crescimento se devem à falta de acesso ao capital. Mas, em muitos dos países onde operamos, nossa atuação está condicionada pela entidade doadora. Há 5 ou 10 anos atrás, se tivéssemos nos aproximado de alguns destes doadores dizendo que nosso objetivo era catalisar investimentos financeiros em negócios de impacto com o apoio de programas de cooperação internacional, teríamos sido vistos com maus olhos. As pessoas enxergavam nisso um conflito de interesse onde o dinheiro de doadores seria usado para aumentar o resultado de operações comerciais”.
“Mas percebemos que tínhamos um pipeline grande de potenciais investidores e muitos indivíduos que estavam se interessando cada vez mais pelo investimento de impacto, porém não sabiam onde nem como investir”, diz Hirst. Nos últimos três anos, a Palladium tem investido na constituição de equipe e infraestrutura para criar um negócio próprio de investimentos de impacto. Atualmente, a empresa está focada na África Ocidental e já fez 2 investimentos em negócios sociais usando recursos financeiros próprios. Seu mandato está centrado hoje em co-investimentos em PMEs entre US$ 400 mil e US$ 1 milhão, nunca ultrapassando mais de 40% do investimento total (preferivelmente via instrumentos de dívida).
A empresa já havia feito trabalhos ad-hoc de consultoria em investimentos, mas consolidou sua atuação nessa área há alguns meses com a aquisição da consultoria financeira de impacto Enclude (www.encludesolutions.com), do Triodos Bank, por um valor não revelado.
Esta expansão em investimento de impacto é reforçada pelo que Hirst descreve como um dos pontos fortes da Palladium: a medição e avaliação de impacto, área onde organizações que atuam no setor de cooperação e fomento internacional são referência em função da natureza e alcance dos programas que implementam.
“Uma das coisas realmente interessantes sobre a indústria de cooperação e fomento internacional é que, durante décadas, ela se concentrou em demonstrar o impacto real dos dólares investidos por agências governamentais e multilaterais. Como resultado, o monitoramento e avaliação dos programas internacionais de desenvolvimento por parte dos fundos bilaterais é extremamente sofisticado”.
Este artigo foi publicado originalmente no Responsible Investor (www.responsible-investor.com) e foi traduzido e republicado com sua permissão.
Link da matéria no site da Palladium: https://thepalladiumgroup.com/news/christopher-hirst-interview-responsible-investor